sábado, 1 de agosto de 2020

“Coringa” (Joker) - A realidade sombria de um mundo adoecido



Talvez o filme mais impactante de 2019 tenha sido o espetacular “Coringa”, protagonizado com maestria pelo brilhante ator Joaquim Phoenix. O filme que retrata a vida de Arthur Fleck, um homem com problemas mentais que tenta ganhar a vida como palhaço de uma agência de talentos é um retrato da nossa sociedade que exclui e ignora pessoas com algum tipo de deficiência. Na história o protagonista (Phoenix), recebe do governo um auxílio psiquiátrico que sem maiores explicações é cortado, o que interrompem as suas receitas e os medicamentos controlados que necessita para se manter lúcido.

No filme “Coringa”, vemos uma crítica social muito forte e que permeia a nossa sociedade atual que é a falta de inclusão social, o descaso das autoridades com os menos favorecidos, políticos que não se importam com a vida do povo, apresentadores de programas televisivos que ganham dinheiro explorando a desgraça alheia, humilhando pessoas excluídas e que geralmente não podem se defender. É um soco no estômago assistir ao sofrimento de Arthur Fleck durante grande parte do filme, chega a ser perturbador o modo como ele é tratado por colegas, superiores e a própria população.

O filme em geral nos traz muitas reflexões, mostra como uma sociedade e governantes podem ser cruéis com aqueles que não tiveram oportunidades na vida, que vivem tentando sobreviver em meio ao caos social. “Coringa” mostra a injustiça de classes, a desigualdade e o abismo social, o capitalismo selvagem e agressivo das grandes metrópoles, a falta de amor, empatia e compaixão com os desvalidos, a total falta de esperança de quem nada possui.

No mundo em que vivemos atualmente não há possibilidades de crescimento, não há educação e saúde de qualidade, emprego digno, moradia, diversão e muito menos alimento para todas as pessoas que não nasceram em berço de ouro ou em condições razoáveis de sobrevivência. São milhões de pessoas vivendo a margem da sociedade, sem saneamento básico, morando em barracos, debaixo de pontes, sem nenhuma perspectiva de uma vida melhor.

Nesse sentido o excelente filme “Coringa”, do diretor Todd Philips mostra cruamente como a falta de humanidade, sensibilidade e oportunidade podem desencadear o pior do ser humano, a revolta contra um sistema opressor e de manipulação que não se importa com a vida do próximo, com quem nada tem, com os deficientes, os pobres, os idosos e a maior parte do povo. Já passamos da hora de lutarmos por igualdade, pela democracia, pelos direitos iguais, pela igualdade de oportunidades, pelo fim das classes sociais, por mais dignidade para todos e por um mundo mais justo e solidário.

O mundo se tornou um lugar hostil e quase inabitável para os mais necessitados, são milhares de pessoas esquecidas pelos governos, pelas autoridades, pelos detentores do capital, os empresários e também por grande parte da população que se auto intitulam “cidadãos de bem”. Numa sociedade egoísta não há espaço para os "Arthurs Flecks" da vida real, não há interesse em dar condições dignas para todos e cada um se vira como pode. Triste pensar que a humanidade não deu certo, que nos tornamos incapazes de se comover com a dor alheia, com o sofrimento de tantas pessoas que só queriam ter a chance de viverem em paz.

Precisamos melhorar muito como seres humanos, aprendermos a nos respeitar, a sermos mais gentis, a se colocar no lugar do outro e compreender as suas dores, a lutar por um mundo com possibilidades para todas as pessoas sejam elas brancas, negras, idosas, pobres, deficientes, minorias, seja qual for à raça, crença, orientação sexual, nada disso importa porque somos todos humanos e merecedores de uma vida com dignidade, oportunidades e direitos básicos. A felicidade compartilhada é muito mais felicidade e todos nós aqui na Terra temos o direito de sermos felizes.


Alécio Souza